HOMEOPATIA:
Ciência, Filosofia e Arte de Curar


Interesse Geral 

Plágio do princípio de cura homeopático - Informativo APH 

Plágio do princípio de cura homeopático - Informativo APH

Teixeira, MZ. Plágio do princípio de cura homeopático.Informativo APH, 2006; 18(95): 5.

Reedição de Homeopathy (2005) 94, 265-266, MZ Teixeira, “Paradoxical strategy for treating chronic diseases: therapeutic model used by homeopathic paradigm for more than two centurie”, com permissão de Elsevier Publisher [1].

 

No trabalho que inaugura a homeopatia (“Ensaio sobre um novo princípio a respeito do poder curativo das drogas”, 1796), Samuel Hahnemann resume as propriedades farmacológicas de diversas substâncias medicinais de sua época, que apresentavam uma resposta secundária curativa em oposição ao seu efeito primário paliativo. Nesse trabalho, as drogas foram analisadas segundo a ação primária de provocar alterações orgânicas e a ação secundária do organismo em tentar anular estas perturbações iniciais, sendo essa última a responsável pela reação vital curativa do tratamento homeopático ou princípio terapêutico pela similitude.

No Organon (§ 56-60) [2], Hahnemann critica o método enantiopático de tratamento (contraria contrariis curentur), mencionando um grande número de drogas que eram usadas em sua época com uma ação paliativa ao sintoma incomodativo, demonstrando que 'após este ligeiro alívio antipático (de curta duração) seguir-se-á, sempre e sem exceção, uma agravação' (§ 58). Baseado nessas observações clínicas do procedimento terapêutico paliativo, que embasa o 'mecanismo de ação das drogas” (§ 61-65) através da ação primária das drogas e da ação secundária do organismo, Hahnemann propõe seu método terapêutico: “toda droga que causa uma perturbação em um organismo saudável (doença artificial) é capaz de curar essa mesma perturbação em um organismo doente (similia similibus curentur), em vista de despertar uma reação orgânica contrária ao sintoma inicialmente provocado, anulando o sintoma semelhante da doença natural”.

Em 1999, eu publiquei no periódico cientíifico Homeopathy o artigo 'Similitude in modern pharmacology' [3], demonstrando a reação vital do organismo em inúmeros agentes farmacológicos modernos, após a descontinuação do tratamento paliativo. Seguindo o raciocínio do fundador da homeopatia, verifiquei que após a suspensão de inúmeras classes de drogas enantiopáticas (paliativas) modernas, utilizadas para eliminar sintomas segundo o princípio dos contrários, os mesmos sintomas que foram suprimidos inicialmente retornam com intensidade maior do que a original (efeito rebote ou reação paradoxal, segundo a terminologia científica moderna). Nesse trabalho, fundamentei as observações experimentais homeopáticas através do modelo farmacológico moderno.

Em 2003, seguindo esse mesmo raciocínio, publiquei no periódico científico Medical Hypotheses o artigo “Homeopathic use of modern medicines: utilisation of the curative rebound effect” [4], propondo uma sistemática para se utilizar as drogas modernas em conformidade com o princípio de cura homeopático, utilizado para reverter condições crônicas do organismo, através da reação homeostática ou paradoxal (ação secundária ou reação vital do paradigma homeopático). Descrevendo as evidências encontradas na fisiologia e na farmacologia modernas ('paradigmas das ciências biológicas'), sugeri o uso de drogas modernas, em doses infinitesimais (medicamentos dinamizados), em conformidade com uma aplicação parcial (sintomas isolados) ou global (totalidade de sintomas característicos) do princípio da similitude terapêutica. Exemplificando a aplicação da 'similitude parcial' com doses infinitesimais de fármacos modernos, sugeri o uso da aspirina em casos de hemorragias e sangramentos, agentes imunossupressores para estimular o sistema imune, agentes hipertensores para tratar pacientes hipertensos, agentes hipotensores para tratar o choque hipovolêmico, agonistas da dopamina para estimular a lactação em mulheres, etc.

Em recente edição do Medical Hypotheses, Anthony J. Yun et al. publicaram o artigo intitulado “Paradoxical strategy for treating chronic diseases where the therapeutic effect is derived from compensatory response rather than drug effect” [5], como uma 'proposta inédita' ('our counterintuitive paradigm', 'our paradoxical treatment model', etc.) de tratamento das doenças crônicas por mecanismos compensatórios do organismo. Os autores não citaram, em qualquer parte do artigo, as iniciativas previamente citadas, omitindo qualquer menção à homeopatia.

Utilizando os pressupostos homeopáticos sem citá-los, os quais foram fundamentados na racionalidade científica moderna através dos artigos acima referendados, Yun et al. se apoderaram da autoria intelectual de idéias e conceitos empregados há mais de dois séculos pela homeopatia: 'Our hypothesis portends a different trend in pharmacology: the development of drugs that require more innovative dosing, increase sensitization over time enabling dose reduction, and may cure the underlying chronic condition” [5].

Respondendo aos questionamentos dos autores sobre a necessidade do desenvolvimento de 'novel drug-delivery methodologies' ou “drugs that require more innovative dosing” para se evitar a agravação primária dos sintomas quando se aplica o princípio da similitude terapêutica, Hahnemann propôs a utilização do medicamento dinamizado (diluição seguida de vigorosa agitação), que apresenta a propriedade de despertar a reação paradoxal do organismo sem os efeitos primários indesejáveis das doses fortes das mesmas substâncias.

Em vista do ocorrido, enviei uma carta ao Editor do Medical Hypotheses pontuando os fatos citados anteriormente, que se recusou a publicá-la por razões citadas em recente editorial [6] (desde que ele se tornou Editor do periódico Medical Hypotheses, após a morte de David Horrobin, proibiu a publicação de artigos na área da Medicina Alternativa) e pela interpretação de que 'Yun et al. escreveram um artigo dentro dos paradigmas das ciências biológicas, que não inclui a homeopatia”.

Fechando sua mente às evidências científicas previamente mencionadas (reforçadas no artigo de Yun et al.), o Editor-Chefe do Medical Hypotheses, Bruce G. Charlton, afirma no editorial anteriormente citado que 'a lei homeopática dos semelhantes não é uma parte da farmacologia', classificando todas as práticas da medicina alternativa e complementar (CAM) como métodos terapêuticos espiritualistas sem embasamento científico: “To be specific, it seems obvious to me that Alternative healing is not based on scientific theories for the simple reason that it is essentially a branch of New Age spirituality” [6].

Infelizmente, com a morte do Dr. David F. Horrobin em 2003, Editor-Chefe do Medical Hypotheses, a Medicina foi duplamente afetada: perdeu uma mente brilhante, aberta aos vários conhecimentos das ciências médicas, e um periódico que costumava publicar, sem parcialidade ou preconceitos, hipóteses médicas que transcendiam o limitado modelo científico Cartesiano.

 

Referências bibliográficas

1) Teixeira MZ. “Paradoxical strategy for treating chronic diseases”: therapeutic model used by homeopathic paradigm for more than two centuries. Homeopathy 2005; 94(3): 265-266.

2). Hahnemann S. Organon of medicine, 6th Edn. New Delhi: B. Jain Publishers, 1991.

3) Teixeira MZ. Similitude in modern pharmacology. Homeopathy 1999; 88: 112-20.

4) Teixeira MZ. Homeopathic use of modern medicines: utilisation of the curative rebound effect. Med Hypotheses 2003; 60(2): 276-283.

5) Yun AJ, Lee PY, Bazar KA. Paradoxical strategy for treating chronic diseases where the therapeutic effect is derived from compensatory response rather than drug effect. Med Hypotheses 2005; 64(5): 1050-1059.

6) Charlton BG. Why Medical Hypotheses does not publish papers from the field of Alternative healing. Med Hypotheses 2004; 63(4): 557-559.

 



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